• 5 de novembro de 2024

Dr. Diego Dozza: “Dor Oncológica: há solução?”

 Dr. Diego Dozza:  “Dor Oncológica: há solução?”

Dor Oncológica: há solução?

A dor causada pelo câncer é muito prevalente e pode atingir até 70% dos pacientes em casos avançados. Mas alguns tipos de câncer podem causar dor desde o início da doença, como no pâncreas, cabeça e pescoço. A dor pode ser causada pelo próprio câncer ou pelo tratamento medicamentoso/cirúrgico, além do comprometimento psicológico. Com o avanço dos tratamentos mais pessoas sobrevivem e cerca de 10% destas apresentam dor severa que interfere na sua funcionalidade. Estudos europeus e americanos demonstram que 56 a 82% dos pacientes não recebem tratamento adequado, e numa revisão sistemática 1/3 dos pacientes não recebeu analgesia adequada para seu grau de dor. Estes são dados significativos e tornam o câncer uma questão de saúde pública, pois ocorrem cerca de 15 milhões de novos casos por ano no mundo, com uma mortalidade de mais de 8 milhões de pessoas por ano. O tratamento deve incluir uma equipe multidisciplinar e envolver a família.

O tratamento da dor deve ser multidisciplinar e inclui a farmacoterapia, métodos intervencionistas, reabilitação, psicoterapia, neuromodulação e terapias integrativas. Inicialmente são utilizados analgésicos simples e anti-inflamatórios, seguidos do uso de opioides fracos e posteriormente os opioides fortes. Claro que este é um exemplo de esquema muito básico e além da analgesia é necessário o tratamento específico do câncer com radio e quimioterapia que deve ser orientado pelo oncologista.

Dificilmente um paciente com dor oncológica não utilizará um opioide (codeína, morfina, metadona, fentanil, oxicodona…). Estas são medicações potentes e com potencial efeito colateral e dependência e, portanto, devem ser manejadas por especialistas da área. Para tentar reduzir a quantidade dos opioides são utilizadas outras estratégias terapêuticas como a associação de outras medicações, analgesia do neuroeixo, bloqueio de nervos e neuromodulação invasiva. Algumas opções são o implante de bomba intratecal de fármacos, neurólise do plexo celíaco ou hipogástrico, ablação por radiofrequência ou crioablação e menos frequente implante de neuroestimulador medular. Todas estas opções dependem do local do tumor e o objetivo do tratamento. 

A utilização da infusão intratecal das medicações através de bombas de infusão implantáveis tem apresentado melhora significativa no controle das dores e com menos efeitos colaterais, pois se utilizam doses menores das medicações, a morfina, por exemplo, é utilizada com uma dose 300 vezes menor que por via oral. Atualmente já foram liberadas várias medicações para a utilização através deste mecanismo, além de poder ser feita uma mistura delas para melhor controle da dor. Então calcula-se a dose que será liberada continuamente ou em pulsos, atuando de forma mais precisa diretamente sobre o sistema nervoso.

Então após a falha terapêutica com as medicações convencionais para o tratamento da dor não há mais aquela frase “você tem que se acostumar com a dor e conviver com ela”. Atualmente há um avanço enorme na tecnologia medicamentosa e no tratamento cirúrgico que podem auxiliar na qualidade de vida de quem convive com esse sofrimento. E é preciso lembrar que o uso crônico e abuso de medicações também pode acarretar complicações da saúde como, por exemplo, lesões no fígado e rins.

E como já dizia Tim Hansel: a dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

  1. Portenoy RK. Treatment of cancer pain. Lancet 2011; 377: 2236–2247.
  2. Breivik H, Cherny N, Collett F et al. Cancer-related pain: a pan-European survey of prevalence, treatment, and patient attitudes. Ann Oncol 2009; 20: 1420–1433.
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  4. Torre LA, Bray F, Siegel RL et al. Global cancer statistics, 2012. CACancer J Clin 2015; 65: 87–108.

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